quarta-feira, 14 de abril de 2010

O Osonório e o Libório em "Engendrar uma caganeira"

O sol raiava intensamente numa tarde de calor. O verão ia a meio e proporcionava ao Osonório e ao Libório mais um dia enfadonho. Era um daqueles sábados em que não lhes surgia alguma ideia para passar o tempo. Estavam sentados no sofá da sala a ver um programa na televisão que não lhes despertava qualquer interesse. Pensar numa actividade no exterior da casa estava fora de questão. As pedras da estrada ferviam e a própria sombra das árvores era quente. Não apetecia mover um único músculo do corpo.
- Vamos jogar às cartas?
Pergunta o Osonório, demonstrando uma vontade de se distrair. Contudo, o Libório não se mostrava disposto a enveredar por esse género de actividades lúdicas. Tinham almoçado, não fazia muito tempo e o ambiente convidava àquilo que ambos não pretendiam – dormir. O irmão do Osonório enveredara por essa saída. A mãe, por seu turno, entregava-se às lides domésticas duma dona de casa. Acabara de lavar a loiça e começava as habituais arrumações do fim-de-semana.
O Libório, como tinha almoçado em casa do Osonório, não tinha tomado o medicamento prescrito pelo médico de família. Tinha problemas de anemia, o qual era tratado com o recurso a um fármaco rico em ferro, essencial para a produção de hemoglobina no sangue. Algures no meio da conversa arrastada que levavam, o Libório comenta:
- Hoje, como comi aqui, não tomei o meu xarope!
Como a anemia do Libório não constituía um caso sério, o Osonório desconhecia por completo o seu estado de saúde. Pergunta-lhe admirado:
- Estás a tomar xarope para quê?
- Estou a tomar ferro para o sangue. – Responde-lhe prontamente. – Tenho problemas de anemia e preciso de repor o ferro em falta.
O Libório estava seguro de que se abster de tomar o remédio num dia apenas não iria ter grande influência no seu tratamento. Apenas dissera-o para quebrar o ambiente silencioso que se abatia sobre eles.
- A minha mãe também anda a tomar um remédio para os ossos. – Confessa o Osonório.
- Ela toma dois tipos de remédio para isso. Se ela abusar num deles corre o risco de apanhar uma caganeira.
O Libório mostrava-se perplexo e ao mesmo tempo incrédulo. Afinal, como poderia um remédio para os ossos, causar uma caganeira? Num instante se gera um debate aceso sobre a veracidade da asserção do Osonório. Este decide então mostrar as embalagens onde se encontravam os remédios. Eram duas caixas diferentes ainda com comprimidos lá dentro.
- São estes comprimidos que causam caganeira!
Afirmava o Osonório levantando a caixa que tinha uma lista roxa. O Libório continuava a interrogar-se por que motivo a mãe dele tomava dois tipos de fármacos para os ossos onde um deles causava diarreia. No meio da algazarra, surge uma ideia na mente do Osonório:
- E se esmigalhássemos um destes comprimidos na água de beber aqui de casa?
Ambos concluíram que, caso dissolvessem um daqueles comprimidos na água, toda a gente que a bebesse apanharia uma caganeira. Estava no ar o mote para uma tarde bem passada. Puseram mãos à obra e congeminaram um plano para causar uma diarreia à família do Osonório.
Tiraram, à socapa, a água de beber do frigorífico e esconderam-se no quarto com as embalagens dos remédios. O Osonório tira um dos comprimidos que provocavam a evacuação intestinal e começa a migá-lo num cinzeiro com um pouco de água.
O Osonório tinha o desagradável hábito de provar tudo o que encontrava, desde granulado para as vacas até às pétalas de rosas. Movido por essa sua estranha tendência, decide provar a pasta que acabara de fazer.
- É bom! Queres provar?
O Libório considerava que não era seguro experimentar a mistela, já que sabia qual era a sua origem e nega-se a fazê-lo. Pelo contrário, o seu amigo, à medida que ia moendo os comprimidos, ia provando a pasta. Quando consideraram que já tinham produzido uma quantidade de pasta suficiente, o Osonório coloca uma pequena parte na água da garrafa e decide mexer com um lápis para conseguir uma mistura homogénea de modo a passar despercebida. Devido à sua inaptidão manual, deixa cair o lápis no recipiente.
- Olha… Deixei cair o lápis aqui dentro.
Diz para o Libório que o observava com atenção.
- Temos de o tirar. Não podemos recolocar a garrafa com o lápis aí dentro.
Responde o Libório de imediato. O Osonório começa por inclinar ligeiramente a garrafa com o intuito de apanhar o lápis. Por azar, durante todo o processo, esvazia a garrafa por completo. O Libório começa-se a rir.
- A garrafa está vazia. Já não é possível realizarmos a empreitada.
O Osonório discordava. Era suficiente encher a garrafa numa torneira. A única possibilidade que lhe ocorria consistia em distrair a mãe para enchê-la na torneira da cozinha. Era uma tarefa deveras complicada e fora do alcance das capacidades de ambos. Em poucos segundos surge uma ideia na mente do Libório que viria a salvar a situação.
O quarto onde faziam as suas experiências tinha uma mesa encostada sob o parapeito de uma janela que dava para um pátio. Decidem sair pela janela com a garrafa e vão enchê-la com a água da mangueira usada regularmente para lavar o chão e regar o jardim. Essa água era imprópria para consumo mas desempenhava o papel que pretendiam. O Libório já começava a achar aquela cena deveras hilariante e ria-se efusivamente.
Voltam para o quarto com a garrafa completamente cheia de água da mangueira e preparam a mistura evacuativa. Com toda a manha que lhes era característica, não lhes foi difícil repô-la no mesmo sítio do frigorífico donde a tinham tirado.
O Libório, novamente no quarto, não suportava o riso. Aliás, considerava que aquele episódio estava um pouco deslocado daquilo que considerava normal. O Osonório ria-se também, uma vez que a partida tinha grandes hipóteses de ser bem sucedida. No meio da euforia, o Osonório solta um peido com uma sonoridade exagerada. Fizeram silêncio.
- Caguei-me!
Diz o Osonório que tinha provado a mistela.
- Isso, eu sei! – Responde o Libório. – Ouviu-se bem.
- Não! Caguei nas …
Antes que conseguisse completar a frase ouviram “próóóóóó” com uma intensidade ainda maior do que a anterior.
- Caguei-me outra vez.
O Libório começava a ter dificuldade em suportar o riso. O Osonório, por seu turno, estava numa situação desagradável. Só lhe apetecia rir com toda aquela situação e o cenário hilariante atiçava-lhe a vontade de fazer merda. Ao ouvir aquele alarido, o irmão do Osonório que tinha acordado da sesta há pouco tempo, entra no quarto e encontra os dois amigos demasiado ridentes. Pergunta:
- Estais-vos a rir de quê?
Como os dois não respondem no meio de tanto riso, conclui:
- Já prepararam alguma e não querem dizer.
- Estamos a rir-nos duma anedota. – Returque o Libório, enquanto o companheiro manda grandes e sonoras cagadas. O irmão do Osonório, pouco convencido, abandona o quarto ao som dos peidos e das risadas.
O Osonório passou muito tempo na casa de banho a cagar. Teve de tomar banho e vestir roupa lavada. Toda a gente da família do Osonório andou de caganeira durante aproximadamente uma semana. Pelo menos, andaram assim enquanto durou a água da mangueira na garrafa. A irmã do Osonório reparara que este preferia beber água da torneira. Achava aquele comportamento estranho mas nunca desconfiou que a caganeira que a maçava estava associada à água nem tampouco ao bizarro comportamento do irmão.
Os dois amigos mais tarde vieram a saber que, aquilo que pensavam ser comprimidos para os ossos, não passava de um fármaco para a prisão de ventre.

1 comentário:

  1. O Libório lol
    C'a tolo man, essa cena é uma moca...
    Isso é de partir a louça toda faço ideia...

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